Lengalengas
Hoje é Domingo
Toca o sino.
O sino é d'oiro
Pica no toiro.
O toiro é rico,
Pica no burrico.
O burrico é valente,
Pica em toda a gente.
Tamborilão,
Cabeça de cão,
Orelha de pato
Não tem coração.
Tamborilão,
Eles lá vão... (Para andar no baloiço)
Vai-te embora,
Ó papão
Para cima do telhado.
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado. (Para embalar o bebé)
Poesia popular
O meu amor me deixou
Para ver o que fazia.
Cuidava que eu chorava
E eu canto de alegria.
O meu amor é um bruto,
Ainda lho torno a chamar:
Na idade que nós temos
Já me falou em casar.
(...)
O meu amor onte à noite
Pela porta me passou.
Por causa da vizinhança
Nem o chapéu me tirou.
O meu amor diz que vinha
Quando a lua lá viesse.
A lua já vai tão alta,
O meu amor não aparece.
Abaixa-te ó serra d'Aire
Que eu quero ver a Atouguia,
Quero ver o meu amor,
O meu amor de algum dia.
Algum dia era eu rosa,
Rosa que andava na mão;
Agora sou vassourinha
Com que tu varres o chão.
(...)
Quando era pequenina
Usava fitas e laços;
Agora sou casada,
Uso os meus filhos nos braços.
Fui um dia passear
Com tristeza e paixão:
Vi uma cara mirrada,
Vi as tábuas dum caixão. (Quadra que se cantava durante a jorna, na apanha da azeitona, do outro da Serra d'Aire)
Uma casa e carinho
Para nela habitar,
Uma cabra,
Uma cabrinha,
Um porquinho engordar,
Uma esposa diligente
Para doce companhia
E cuidar dos seus filhinhos
Cada noite e cada dia.
E mais nada é preciso
Para a vida com doçura
Decorrer em paz tranquila
Desde o berço à sepultura. (Síntese da filosofia de vida dos camponeses)
Contos para crianças
"A criança raptada"
Era uma vez um menino que não tinha pai nem mãe. Vivia muito triste e sozinho. Um dia os ladrões agarraram-no e levaram-no para uma loca que havia debaixo da terra. E disseram-lhe:
- Tu não te atrevas a fugir daqui. Vês a pele daquele que ali está? Acontece-te o mesmo a ti.
O menino tremia de medo mas não podia fazer nada. Um dia, quando os ladrões saíram, o menino fez um buraco e fugiu. Teve sorte. Foi por outro caminho e assim chegou à cidade. Foi acolhido por um senhor que não tinha filhos e foi muito feliz.
Os ladrões foram todos presos.
"Conto do Sal"
Era uma vez um rei que tinha duas filhas. Chamou-as e disse-lhes:
- Quero saber qual de vocês me quer mais.
A mais velha disse-lhe:
- Eu quero mais ao meu pai do que ninguém.
A mais nova disse ao pai que lhe queria tanto como a comida queria o sal. O pai ficou muito aborrecido e pôs a filha fora de casa.
A menina, com frio e fome, foi pedir trabalho a um senhor de uma quinta. O senhor aceitou-a para guardar patos. Deram-lhe um cana e lá foi muito triste. E ia dizendo, pé aqui, pé ali: "A filha do rei a guardar patos foi coisa que nunca imaginei ver.".
Um dia o rei foi passear e foi almoçar a uma estalagem. Por sorte esqueceram-se de deitar sal na comida e o rei não comeu. Depois começou a pensar que a filha tinha muita razão, mandou-a a chamar e pediu-lhe muitas desculpas e foram felizes.
Nos primórdios da nossa cidade, os habitantes da nossa região, vestiam-se principalmente com peças de lã, algodão e linho. Para o trabalho, utilizavam as roupas mais simples e práticas, guardando para o Domingo a melhor roupa que tinham.
Jogo do pião
Jogo da bugalhinha: Jogo do berlinde
Arranca-te, nabo: Um rapaz sentava-se sobre um banco baixo ou uma pedra. Sobre o seu colo iam-se sentando sucessivamente outros miúdos, agarrando-se uns aos outros pela cintura. Um rapaz de pé tentava puxar o último da fila,tentando desmoronar o conjunto, dizendo "Arranca-te, nabo!".
Agarra e foge: No início do jogo, escolhia-se um dos participantes, que ficava a "agarrar" os outros, correndo atrás deles. Quando toca-se num deles, este torna-se o perseguidor, invertendo-se os papéis. Repetia-se assim o ciclo, até que outro dos participantes fosse apanhado.
Amouxa: Um dos participantes ficava sentado, geralmente sobre uma pedra. Um segundo ajoelhava-se à sua frente, com a cabeça no colo do primeiro, que lhe vendava os olhos com as mãos. Um terceiro participante aproximava-se. O que estava sentado perguntava "Quem é?", ao que o segundo respondia "É fulano!". Se não acertasse, o primeiro dizia "Amouxa, fulano!". Então, o terceiro sentava-se nas costas do segundo, que tinha errado. À medida que iam falhando, o monte ia aumentado, até que o peso deixava de ser suportado e o monte acabava por desmoronar.
Regougou: Jogo das escondidas
Estaca: Cada jogador possuía uma estaca de madeira com o bico aguçado. O primeiro jogador espetava a sua estaca no chão do terreno onde se encontrava. O seguinte, além de espetar a sua estaca, tinha de tentar derrubar a do adversário. Caso caíssem as duas, ficavam lá ambas. Os jogadores seguintes tentavam tocar-lhes e, ao mesmo ao tempo,espetar a sua estaca. Conseguindo isto, o jogador que o tinha feito, agarrava na estaca do adversário e atirava para o mais longe possível. Assim que o fizesse, começava a espetar repetidamente a sua estaca, contando, até que o dono da estaca lançada trouxesse a sua e a enterra-se ao lado. Ganhava quem, no final, tivesse mais pontos contados.
Atiradoiras: Fisgas
Fátima, jovem e bela princesa moura, era filha única do emir, que a gurdava dos olhos dos homens numa torre ricamente mobilada, tendo por companhia apenas as aias e, entre elas, a sua preferida e confidente, Cadija.
Apesar de estar prometida a seu primo Abu, o destino quis que Fátima se apaixonasse pelo cristão que seu pai mais odiava, Gonçalo Hermingues, o “Traga-Mouros”, o cavaleiro poeta que nas suas cavalgadas pelos campos via a bela princesa à janela da torre.
Rapidamente o coração do cavaleiro cristão se encheu daquela imagem e sabendo que a princesa iria participar no cortejo da Festa das Luzes, na noite que mais tarde seria a de S. João, preparou uma cilada de amor. No impressionante cortejo de mouras e mouros, montando corcéis lindamente ajaezados, Fátima era vigiada de perto por Abu.
De repente, os cristãos liderados pelo "Traga-Mouros" saíram ao caminho e Fátima viu-se raptada por Gonçalo. Mas Abu depressa se organizou e partiu com os seus homens em perseguição dos cristãos e a luta que se seguiu revelou-se fatal para o rico e poderoso Abu.
Como recompensa pelos prisioneiros mouros, Gonçalo Hermingues pediu a D. Afonso Henriques licença para se casar com a princesa Fátima, a que o rei acedeu com a condição que esta se convertesse.
A região que primeiro acolheu os jovens viria a chamar-se Fátima, mas a princesa, já com o nome cristão de Oureana, deu também o seu nome ao lugar onde se instalaram definitivamente, a Vila de Ourém.